No cenário empresarial brasileiro, as empresas familiares representam uma parcela significativa da economia, empregando em torno de 75% da mão de obra no país segundo dados da KPMG, trazendo consigo desafios únicos de gestão e continuidade.
Diante de tamanha relevância à nossa economia, é preocupante o que aponta um estudo do Banco Mundial, segundo o qual 30% das empresas familiares chegam à 3ª geração e apenas metade disso, ou seja, 15%, sobrevivem a ela.
Segundo Carlos Martins Pereira, professor associado da Fundação Dom Cabral, os principais obstáculos à longevidade das empresas familiares são:
- o apego e centralização excessiva de poder
- a sobreposição de papéis
- a dificuldade de reconhecer e trabalhar as próprias limitações pessoais
- a falta de um planejamento sucessório adequado
Nesse contexto, a governança corporativa emerge como um pilar fundamental para a sustentabilidade e o sucesso dessas organizações. Este artigo explora a importância da governança em empresas familiares no Brasil, os principais instrumentos de controle e o papel vital da controladoria no processo de tomada de decisões e gestão de riscos.
A Governança como Ferramenta de Sustentabilidade
A implementação de práticas de governança corporativa em empresas familiares não é apenas uma medida de transparência e conformidade; é uma estratégia essencial para assegurar a sua sustentabilidade e sucesso a longo prazo. Essas práticas facilitam a separação entre a propriedade e a gestão, promovem uma cultura de meritocracia e contribuem para a profissionalização da empresa. Além disso, a governança efetiva ajuda a mitigar conflitos de interesses, a assegurar a equidade entre os membros da família e a fortalecer a confiança dos stakeholders.
Principais Instrumentos de Controle
1. Conselho de Administração/ Conselho Consultivo: Atua como um órgão de supervisão estratégica, garantindo que as decisões estejam alinhadas com os interesses de longo prazo da empresa e de todos os stakeholders.
2. Conselho Familiar: Serve para alinhar os interesses e expectativas da família em relação à empresa, estabelecendo políticas claras para a participação dos membros da família nos negócios.
3. Acordo de Sócios: Contrato celebrado entre os sócios de uma empresa com o objetivo de compor os interesses individuais de cada um deles e estabelece algumas regras na condução dos negócios da sociedade.
4. Comitê de Auditoria: Um comitê independente que supervisiona a integridade financeira, os controles internos, a auditoria externa e o cumprimento das leis e regulamentos aplicáveis.
5. Código de Conduta e Ética: Estabelece os princípios éticos e as normas de comportamento esperadas de todos os membros da organização.
O Papel da Controladoria
A controladoria, como uma função estratégica de suporte à gestão, desempenha um papel crucial em empresas familiares. Ela deve fornecer ao Conselho de Administração ou ao Conselho Consultivo informações precisas e tempestivas sobre o desempenho econômico e financeiro, a gestão de riscos e as oportunidades de mercado. Isso inclui:
– Apresentações de Resultados: A controladoria deve elaborar relatórios de desempenho econômico, financeiro e operacional que reflitam a real situação da empresa, destacando áreas de sucesso e pontos de atenção.
– Gestão de Riscos: Identificar, avaliar e propor medidas para mitigar riscos internos e externos que possam afetar a empresa. Isso abrange desde riscos financeiros até riscos operacionais e de mercado.
– Planejamento e Orçamento: Auxiliar no desenvolvimento de planos estratégicos e orçamentos que estejam alinhados com os objetivos de longo prazo da empresa e da família proprietária.
– Compliance e Controles Internos: Garantir que a empresa esteja em conformidade com as leis e regulamentos aplicáveis, além de implementar controles internos robustos para prevenir fraudes e erros.
Desta forma, o processo de Controladoria de uma empresa é crucial para a tomada de decisões estratégicas, trazer maior transparência e segurança para os acionistas e na implementação de uma forte cultura de resultados na organização.
Conclusão
A governança em empresas familiares no Brasil não é apenas um requisito para a sobrevivência; é uma alavanca para o crescimento e a prosperidade. A implementação de estruturas de governança e instrumentos de controle adequados, juntamente com uma controladoria eficaz, pode transformar desafios em oportunidades, garantindo que a empresa não apenas sobreviva de geração para geração, mas também prospere em um ambiente de negócios cada vez mais competitivo e complexo. Assim, a governança corporativa em empresas familiares emerge não somente como uma boa prática, mas como um diferencial estratégico essencial para o sucesso e a continuidade dos negócios no Brasil.
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